30 de ago. de 2011

Dama da Noite no Blog Eles querem saber

Reproduçao da critica de Rodolfo Lima para o site Mix Brasil no Blog " ELES QUEREM SABER" de Fortaleza.

29 de ago. de 2011

Diretor Andre Leahun participa do evento UrbanArte

O teatro contemporâneo produzido em Santos é o tema do próximo evento do Urbanarte, que ocorre no dia 31 de agosto (quarta-feira), às 20h, na Estação da Cidadania de Santos (Avenida Ana Costa, 340) com a presença dos diretores e atores Maria Tornatore, Miriam Vieira e André Leahun. A entrada é gratuita.


O evento tem curadoria da jornalista, produtora e pesquisadora cultural Márcia Costa, do Instituto Artefato Cultural. A mediação fica a cargo do escritor e agitador cultural Flávio Viegas Amoreira, que fará o papel de provocador frente às amplas questões que abrangem o universo artístico.

André Leahun, premiado como ator, diretor, iluminador e cenógrafo em festivais municipais, estaduais e nacionais, é sócio-proprietário da Confraria Produções Artísticas e diretor artístico da Associação Cultural Afro-Brasileira Luz das Candeias do Litoral da Costa da Mata Atlântica. Como diretor realizou, entre diversos trabalhos, “Bailei Na Curva”, “Bodas de Sangue”, “Projeto Carne de Segunda”, e atualmente dirige os espetáculos “Dama da Noite”, texto de Caio Fernando Abreu e “O Que Terá Acontecido A Rosemary”? É o realizador pelo décimo ano consecutivo da pesquisa, elaboração e concepção artística do Evento Carnabonde, da Secretaria Municipal de Cultura de Santos.



26 de ago. de 2011

Dama da Noite em Mogi das Cruzes

O espetaculo Dama da Noite foi selecionado para participar do Premio Nacional de Teatro em Mogi das Cruzes no Mes de Outubro.
Nossa apresentacao acontecerá no sabado, 08 de Outubro.
Aguardem mais informacoes

23 de ago. de 2011

Dama da Noite na Home do UOL GAY


CRITICA DO ESPETACULO Por Rodolfo Lima para o site Mix Brasil

O conto “Dama da Noite” é o mais popular do autor Caio Fernando Abreu (1948-1996), isso dadas as inúmeras montagens teatrais a partir da história. Um personagem narra suas angústias, medos, aflições e visão de mundo, sem o menor filtro ou preocupação de parecer agradável. Se expõe como uma ferida aberta.

A história é tão polêmica que divide opiniões: há quem diga que seja um homem narrando, outros apostam numa mulher, alguns numa drag decadente e a própria Claudia Wonder me disse um dia que o conto havia sido inspirado nela e seria para ela. Polêmicas à parte, a cidade de Santos oferece a versão mais agressiva de todas as damas da noite já vista por esse que vos escreve.

Luiz Fernando Almeida é a Dama da vez. Toda de negro, fã da banda Kiss. Altérrima, e darkérrima. Quando surge não se sabe ser um urubu ou um gavião. Metáforas para exemplificar as atitudes dessa dama de cheiro enjoativo e que mata. Sim, a personagem criada por Almeida é capaz disso. Na primeira olhada você não tem dúvidas. Todo o visual compõe uma figura violenta, agressiva e beirando a insanidade. Não sabemos se é um gavião: poderoso, majestoso, violento apenas quando necessário e que sabe de todo o seu potencial ou um urubu, pronto a chafurdar na sua carniça no menor descuido. Se sabe inferior, mas não aceita sua posição, se rebele, agride, se debate, tenta a seu modo sobreviver.

A direção de André Leahun potencializa o corpo do ator em movimentos grotescos e ríspidos (ela vai gritar ou me morder, não se sabe), mas em dado momento, tudo parece muito sujo. Nem sempre corpo, voz e música ao mesmo tempo resultam numa boa cena. E há um abuso desses momentos, o que acaba atrapalhando na recepção do texto. Ele sai jogado da boca do ator e nem sempre essa despretensão é intencional.

A Dama da Noite de Luiz está ferida como um bicho, se acua como uma cadela em baixo da mesa e é capaz de intimidar quem a desafiar. Há diversos momentos em que vemos o ator tentando impactar a plateia com sua pele suada e o tamanho do seu corpo. No cenário de Daniela Bevervanso, o ator parece maior do que já é.

“Preto absorve vibração negativa”, a personagem explica em certo momento e é quase um disparate ela viver num “puteiro” todo branco (branco reflete), aumenta ainda mais o deslocamento social da personagem, mas soa mais como uma gafe cenográfica, já que nas paredes toda branca são projetadas as fotos e imagens de Gabriela Mangieri. É inóspito o lugar. Quarto de casa? De hospital?

Luis potencializa os termos “maldita” e “pestilenta”. Sim, acreditamos que ela é capaz de nos poluir, nos contaminar, afinal sua Dama da noite é escrota o suficiente para destruir sem dó o seu opressor. É por imprimir uma marca tão violenta de sua personagem, que não cabe o tom dramático do final. Não, a personagem do ator não é uma criança assustada, que se recolhe com o clarear do dia. Parece mais um animal raivoso a vagar pelas ruas à procura de consolo e distração, mas sem mostrar a menor vulnerabilidade.

O deboche do ator e de sua personagem não pode ser deixado de lado, a fragilidade não combina com sua composição e em alguns momentos – como o final – faz falta toda a sua descrença. É como se sua Dama da Noite só tivesse o lado B, não há lado A. A trilha sonora que inclui Cazuza, Angela Ro Ro e Renato Russo é acertada quando ouvimos de fundo um som que pode ser da cabeça da personagem, como se fosse uma dor de latejante, uma inquietação. Mas o entra e sai da música, mata qualquer possibilidade de associação direta com os conflitos internos da personagem, parece mais um recurso sonoro. Angela Ro Ro potencializa que a Dama é um animal a mercê da sociedade. Renato Russo potencializa a solidão – num dos melhores momentos da peça, aonde a sensibilidade da personagem vem à tona de forma limpa e coerente. Cazuza potencializa a possibilidade da Dama ser soropositivo.

O teatro de Luiz e André é de excessos. O que é bom, dado a violência com que imprimiram suas visões sobre o conto. Mas é uma faca de dois gumes, pois sobrou pouco espaço para o silêncio, pausas e reflexões. E quando esse respiro ocorre, parece “marcado”, um ato forjado. Seria ótimo se ela debochasse do seu público. Mas não, é o momento “sintam pena de mim”. Puro simulacro. A Dama de Luiz não merece esse momento, ela não recua, ela não dá a cara a tapa, ela não cede. Não pode haver condescendências para sua visão do conto.

E se cair, desaba por completo. Sem recursos cênicos ou cenográficos para ilustrar o momento. A maquiagem de Fernando Pompeu desliza pela pele do ator, numa alusão a uma possível “máscara colorida”. Mas é quando todo o brilho vai embora e vemos o rosa – da flor Dama da Noite? – sombreando o canto do olho da personagem é que pensamos: há uma luz acessa nessa mulher-homem-travesti, ela não é de toda má, há um resquício de esperança, amor, compaixão. Um acerto no layout da personagem.

Agressiva, escrota, violenta, perigosa, maldita, inconveniente, mal educada, vagabunda, são termos que cabem a essa versão menos romantizada do conto de Caio Fernando Abreu. O texto sofreu cortes e pequenas alterações, Luiz foi corajoso ao expor o lado mais repulsivo da personagem, mas faltou o arremate final para que o público a ame ou a odeie. Raspas e restos não há interessa. Não há concessões no mundo da Dama de Luiz, e essa “certeza” a montagem ainda precisa ganhar. A sua violência precisa se estender, mesmo que seja em vão.

Dama da Noite - até 26/08 (o espetáculo volta em outubro no mesmo local, horário e dia da semana)
Espaço Teatro Aberto: Praça dos Andradas - Santos
Sexta às 21h


20 de ago. de 2011

CRITICA DO ESPETACULO Por Bruno Fracchia para o site Artefatocultural

A Dama da Noite

De autoria do escritor gaúcho Caio Fernando Abreu, Dama da Noite é um conto publicado em 1988, no livro Os Dragões não conhecem o paraíso. Trata-se de um texto muito forte que situa muito bem sua época e continua assustadoramente atual: AIDS, solidão, medo de amar, desilusões, decadência... estes são alguns dos assuntos tratados pelo autor nesta história que, à medida que ia sendo lida, gerava-me diversas imagens e sensações, pois, como apontado por Márcia Costa (na crítica por ela muito bem escrita e também publicada no site do Instituto Artefato Cultural, Dama da Noite “não fala exclusivamente de uma Dama da Noite, mas de todos nós que vivenciamos sentimentos tão comuns”.

Não é só tematicamente que o conto apresenta grande força. Sua contemporaneidade reside também na forma. Posto em primeira pessoa, em linguagem objetiva, sem meias palavras, é impossível o leitor fugir da posição de interlocutor da Dama da Noite; é diretamente com ele que a personagem de Caio Fernando fala, potencializando ainda mais o teor impactante de suas palavras. Li o texto antes de assistir ao espetáculo e, evidentemente, me veio à pergunta: como a montagem, dirigida por André Lehaun, transpõe para o palco este impacto?

Recentemente, ouvi Sérgio de Carvalho, diretor da conceituada Cia. do Latão e professor de Dramaturgia da USP, dizer que não existe adaptação fiel. A partir do momento em que se trata de uma transposição de uma obra de sua linguagem original para outra, é impossível uma adaptação ser fidedigna. Mas quando bem “cometida”, essa “infidelidade” não é “traição”. Pelo contrário, é exatamente neste “ato infiel” que consiste o respeito à obra adaptada. Simplesmente pegar um texto literário e colocá-lo em cena, sem assumir nenhum posicionamento, não é adaptar, mas fazer (“má”) aula de cursinho pré-universitário. E para o bem do teatro, concordando ou não com a leitura da direção, não se pode negar que, em Dama da Noite, estamos diante de uma montagem bem proposta, clara e que, ao assumir com consciência um ponto de vista, não “trai” a obra do autor.

Se o conto é moderno na forma e no conteúdo, André Leahun, através de suas escolhas como diretor, concretiza nos palcos esta modernidade. A transposição livro/palco não é realizada só textualmente. As citações (precisas) das redes sociais Orkut, Facebook e Twitter são bem-vindas, mas sãos recursos menos importantes da adaptação realizada, já que a direção também atualiza a prática cênica. Ainda que alguns recursos audiovisuais fossem utilizados por um ou outro diretor brasileiro do início dos anos 80, esse emprego de tecnologia é altamente contemporâneo. Mas se há três décadas, essa “contemporaneidade” era utilizada em caráter de fruição, aqui temos estes recursos servindo de suporte ao intérprete, reforçando o impacto das palavras do autor junto ao público.

Tão artístico e contemporâneo quanto os recursos audiovisuais, é o espaço em que o espetáculo é apresentado. Para este tipo de trabalho, a sala intimista do Teatro Aberto é muito mais poderosa do que uma grande sala de teatro de palco italiano, que muito mais do que contribuir, iria contra o universo do texto, não escrito para ser admirado, mas para instigar, provocar, levar à reflexão.

Existe sempre o risco da tecnologia se sobrepor ao teatral. Paulo José, em sua biografia, já disse que “toda vez que o teatro tenta se renovar, utilizando outras formas de expressão, esquecendo de por o ator no centro da cena, ele sai perdendo”. Esse é um risco que esta produção corria e que não teve medo de enfrentar. No que agiu muito bem. projeções, trilha sonora, ambientalização... tudo é bem proposto, justificado artisticamente e serve de suporte para quem deve ser e é o centro da cena: o ator.

Em cena, Luiz Fernando Almeida prende o público ao longo de toda a apresentação. Um ator entregue, que se expõe, olhando-nos nos olhos e permitindo que olhemos para dentro de nós. Há momentos de riso, mas não é o riso do Pânico na TV ou do stand up comedy (de má qualidade, como há tantos por aí, graças a epidemia que atinge parte da classe artística. Mas isto é tema para outro conto, como diria Anton Tchekhov).

Tudo é tão bem realizado que, exatamente por ver o nítido potencial da montagem (que já apresenta respeitável grau de qualidade) e perceber que o público não está diante de um processo “morto”, sinto-me com liberdade de sugerir que direção e intérprete experimentem alguns momentos de maior introspecção da personagem. Particularmente, algumas dos momentos em que o espetáculo mais me atingiu foram aquelas em que a atuação estava mais internalizada. Por isso, acredito que esta maior internalização, em alguns momentos, ajudaria a revelar ainda mais a realidade da personagem, fazendo a peça ganhar ainda mais força (caso esteja equivocado, pelo menos uma boa oportunidade de exercício está sendo proposta para um processo que está vivo).

No conto, a personagem é uma mulher. Na peça, um travesti. Essa mudança de sexo da personagem é plenamente cabível e justificada pela montagem. Solidão e desilusão são sentimentos universais. Mas independente da sexualidade da personagem, senti falta de uma imagem do conto que, para mim, é muito marcante: a degradação da personagem.

Sendo mulher ou travesti, o texto comunica um indivíduo degradado. É forte a imagem da personagem em decadência, fora de época mesmo para seu universo de párias sociais. Por essa leitura, senti falta de momentos em que a personagem deixasse escapar, ainda que à contragosto, a sua degradação. Há muita força física em cena, que deve continuar existindo, sem dúvida, mas que se confunde com um vigor físico dado à personagem. Essa “mistura” não favorece a comunicação de um estado de degradação não só de um indivíduo, mas de uma sociedade inteira.

Entretanto, faço apenas observações, ciente de que corro o risco de falar de uma outra peça que não a (bem)dirigida por André Leahun. E como já dito, “não existe adaptação fiel”. O recorte dado pela direção pode não ter querido trabalhar este aspecto do conto, o que não torna a montagem “defeituosa” (como poderiam dizer críticos tradicionais, na postura de “juízes” que consideram sua visão como a única verdadeira). Em suma, temos uma proposta clara (coerente com o que é apresentado em cena), contemporânea, artística e, o mais importante, que dialoga não só com a classe teatral, mas com o público em geral (conforme a temporada do espetáculo com sessões ao meio dia no centro de Santos comprova). Nos tempos atuais, dialogar com o público, sem buscar se vender com o riso barato (e sem trabalho) e a nudez sem vergonha, é um fato admirável.

Dama da Noite nos faz refletir social e artisticamente. Se a proposta é clara, é porque existiu um verdadeiro processo. Pesquisa, imersão, estudo. Conseqüência natural, um espetáculo de qualidade. Teatro não é mágica. É suor. Fica a dica (que Dama da Noite nos deixa com propriedade)

Assim como Meire Love, peça comentada anteriormente, aqui temos mais uma bela referência de uso inteligente das teatralidades contemporâneas. Teatro moderno não é para qualquer público, mas sim coisa para intelectual ver? Está aí Dama da Noite para provar o contrário. Muitas pessoas podem não gostar do espetáculo. Não pela contemporaneidade da peça, mas pelo preconceito contra o tema. Debochar de homossexualismo e transexualismo na TV e no (mal) besteirol pode, agora falar a sério destes temas...

Fosse em São Paulo, estaria a montagem na Vejinha e na Folha. Vida longa a este trabalho! A André, Luiz Fernando e toda equipe de Dama da Noite, meu muito obrigado pela experiência.